Nos Anos 90, a cidade de Los Angeles era um verdadeiro caldeirão em seu ponto máximo de ebulição.

Conhecida pelo encontro de pessoas do mundo inteiro, o “paraíso” californiano era uma terra onde sonhos de artistas de todos os tipos eram alimentados, muitas vezes destruídos e algumas delas realizados.

Músicos, atores, escritores, pintores e todo tipo de gente que gostaria de viver da sua arte mas, principalmente, alcançar o estrelato, se reunia no que acabou virando um dos maiores polos culturais do planeta nas últimas décadas.

P e o encontro da Música com o Cinema

Em 1993, a banda surgiu com uma formação bastante peculiar.

O grupo era liderado pelo vocalista Gibby Haynes, da controversa banda Butthole Surfers, e ainda tinha o ator Johnny Depp na guitarra e no baixo, além do ator Sal Jenco na percussão e o compositor Bill Carter também na guitarra e no baixo.

Apesar de uma carreira curta, o grupo de nome esquisito chegou a lançar um disco homônimo em 1995, e é claro que a influência de toda essa trupe conseguiu um contrato com a Capitol Records para o lançamento do álbum.

Não que ele fosse ruim, pelo contrário, há algumas passagens bastante interessantes como a música “Michael Stipe”, criada em torno do vocalista do R.E.M., além de covers de Daniel Johnston (“I Save Cigarette Butts”) e ABBA (“Dancing Queen”).

Além disso, o álbum ainda contou com participações de Flea (Red Hot Chili Peppers), Steve Jones (Sex Pistols) e do celebrado cantor, compositor e também ator Chuck E. Weiss.

Ele só não era um disco sensacional a ponto de ser lançado por uma grande gravadora, mas a gente sabe como a indústria da música funciona e, muitas vezes, o contatinho vale mais do que qualquer outra coisa.

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Red Hot Chili Peppers, show do P e uma fatídica noite no Viper Room

De qualquer maneira, o assunto de hoje não é o merecimento do grupo, mas sim como ele foi a trilha sonora para uma das noites mais tristes do cinema hollywoodiano.

Em 30 de Outubro de 1993, o grupo tinha um show marcado no The Viper Room, uma das casas mais cultuadas do Rock em LA nos Anos 90.

Nesse dia, a banda se apresentou com Flea no palco e quem também estava por ali era o ator (e músico) River Phoenix, descrito por muita gente como “uma das almas mais carinhosas” a ter passado pelas indústria do cinema norte-americano.

Aos 23 anos de idade, ele já havia mostrado como era um ator, músico e até mesmo homem de negócios prolífico, e era muito querido por toda comunidade artística local.

Por exemplo, misturando todas essas características acima, ele foi um dos sócios da aclamada casa House Of Blues original em Cambridge, Massachussets, fundada por um dos seus grandes amigos, Dan Aykroyd, e inaugurada no Dia de Ação de Graças de 1992 após uma refeição gratuita oferecida para pessoas em situação de rua.

Voltando à noite de 1993, River chegou a estar no show mas relatos dão conta de que ele vinha em uma sequência de três dias de uso pesado de drogas ao lado de John Frusciante, guitarrista do Red Hot Chili Peppers.

Quem contou a história foi Bob Forrest, músico e também amigo de River Phoenix que estava no Viper Room e disse que, em certo momento, River bateu no seu ombro para falar que estava passando mal e que tinha medo que havia passado do ponto no uso de cocaína e heroína nos dias anteriores.

Pouco tempo depois, o caos se instaurou fora da casa que tinha Johnny Depp como um dos sócios, já que River passou a ter convulsões e claros sinais de uma overdose que deixaram todos ali em pânico.

Após uma ligação para a emergência feita pelo seu irmão, Joaquin Phoenix, o ator foi levado com vida para o hospital mas não resistiu e acabou falecendo em 31 de Outubro, perto das 2 da manhã no horário do Pacífico, tendo como causa oficial da morte uma overdose pelo abuso de cocaína e heroína.

Legado, homenagens, Matthew Perry e uma dura realidade

River Phoenix e Matthew Perry no cinema

Reza a lenda que no exato momento em que River Phoenix passou mal na calçada, a banda P estava tocando “Michael Stipe”, único single do seu único álbum.

A letra tem uma passagem que diz:

Eu finalmente conversei com Michael Stipe
Mas eu não consegui ver seu carro
Ele e River Phoenix estavam
Partindo para a estrada amanhã

Quem também mencionou essa noite de forma bastante clara em sua biografia foi o saudoso ator Matthew Perry, que nos deixou há algumas semanas.

O eterno Chandler do seriado Friends, disse que conheceu River Phoenix durante as gravações do filme Uma Noite Na Vida de Jimmy Reardon, lançado em 1988.

River tinha o papel principal do longa, interpretando Jimmy Reardon, enquanto Perry fazia sua estreia nos cinemas atuando como Fred Roberts, um de seus amigos.

O filme foi gravado em Chicago, bem longe de Los Angeles, na sua autobiografia, Matthew diz que esse período foi importantíssimo em sua vida, pois pela primeira vez ele se sentiu livre para fazer o que gostaria e ainda estava trabalhando com o que amava.

Ele e River Phoenix ficaram bastante próximos e quando voltaram para Los Angeles, desenvolveram uma amizade sólida que, infelizmente, tinha os vícios em comum.

Infelizmente, não precisamos ir a fundo para encontrar nomes que lutaram contra o álcool, as drogas ou ambos e eram intimamente ligados à cena artística de Los Angeles nos Anos 90.

Só nessa matéria, temos River Phoenix, Matthew Perry, John Frusciante, Bob Forrest e tantos outros que lutaram contra o abuso de substâncias que faziam com que eles esquecessem os problemas da vida, sendo que muitos deles perderam a batalha e nos deixaram.

Como legado, River Phoenix é sempre lembrado por aqueles que estiveram ao seu redor, como o próprio Matthew Perry que fez questão de descrevê-lo de forma extremamente positiva no livro, dizendo que “havia uma aura” em torno do amigo.

Na música, ele gravou a faixa “Curi Curi” para o disco TXAI, do brasileiro Milton Nascimento, e compôs e gravou diversas faixas para filmes, como “Lone Star State of Mine” de Um Sonho, Dois Amores (1993) e “Heart To Get”, cortada da versão original de Jimmy Reardon mas presente na versão do diretor lançada anos depois.

Depois que John Frusciante saiu do Red Hot Chili Peppers, ele havia escrito “Height Down” “Well I’ve Been” com o amigo e ambas aparecem no álbum solo Smile From The Streets You Hold, lançado pelo guitarrista em 1997.

Não podemos deixar de falar, é claro, do clássico “Stand By Me”.

A icônica canção de Ben E. King foi utilizada como trilha sonora do filme de mesmo nome (“Conta Comigo” no Brasil) que acabou catapultando River Phoenix à fama com apenas 16 anos de idade.

Um clipe oficial para a canção foi lançado e conta com imagens da época em que Ben E. King primeiro lançou a música nos Anos 60 até chegar aos Anos 80, trazendo o cantor ao lado de River Phoenix e Will Wheaton.

Ativismo

Outro ponto bastante presente em sua vida era o ativismo, principalmente na defesa dos direitos animais.

Vegano desde os 7 anos de idade, ele se juntou à PETA e era um porta-voz da organização, tendo escrito canções que apareceram em lançamentos beneficentes com o objetivo de arrecadar fundos para ela.

Ao final das contas, River foi mais uma perda trágica e jovem demais de um ambiente que produziu alguns dos melhores lançamentos da indústria do entretenimento em todos os tempos mas cobrou um preço caríssimo por isso.

River Phoenix perdeu a consciência na madrugada de 31 de Outubro de 1993, à frente de um dos bares mais conhecidos de Los Angeles, nos braços da namorada e também atriz Samantha Mathis, durante o show de um supergrupo de Rock Alternativo, para nunca mais voltar.