O cantor Lobão e o crítico musical Regis Tadeu participaram do mais novo episódio do podcast “Raul Ferreira Netto Sem Limites” para debater diversas questões relacionadas à música brasileira. Em um dos cortes do programa, disponibilizado no YouTube na noite desta sexta-feira (09), eles abordam bandas brasileiras que cantam em inglês.
Lobão lembrou que essa estratégia de se lançar em outro idioma foi uma sacada do Sepultura, mas a ideia original visava encontrar um produtor que realmente entendesse de rock. O cantor explicou: “Eles não queriam ser produzidos por aquele ‘som sarapa’ que tinha aqui no Brasil. Daí eles pensaram: ‘Vamos fazer em inglês para ter um som normal, de rock normal’. Porque aqui era impossível fazer essa coisa. Era uma utopia”.
Questionado se os produtores brasileiros daquela época não sabiam lidar com esse tipo de gravação, ele deixa claro: “Eles sabiam gravar, mas se recusavam a fazer, porque para o brasileiro, o rock tem que ser fofo. Nós somos o país mais violento do mundo, mas nossa música precisa ser fofa”.
Ele continua: “O brasileiro tem que ter esse padrão [bossa nova] para poder ser aceito no mundo e se autoaceitar. Então, você põe um ‘pá!’, ‘pum!’ e o cara, na hora da mixagem, diz: ‘Não, ameniza a bateria, tira a distorção… aí vai ficando horrível, porque não é nem barro nem tijolo”.
Lobão deixou claro que o Sepultura fugiu disso: “Hoje eles parecem uma espécie de Airton Senna, de Fittipaldi, porque eles foram pra lá, conquistaram o mercado, credibilidade e respeito impossíveis de a gente conceber”. Regis completou dizendo que eles, inclusive, passaram a gravar com Scott Burns (“Beneath the Remains”, de 1989, e “Arise”, de 1991): “Era um produtor de metal americano mesmo. Era um cara que sabia gravar”.
Mesmo com todo o legado do Sepultura e bandas mais novas como Ego Kill Talent, que cantam em inglês e fazem turnês lá fora, Lobão deixa claro que o rock tem uma rejeição muito grande por aqui: “Ser artista no Brasil já é dificílimo. Tocar música que todo mundo acha chique, bacana, já é difícil. Tocar rock no Brasil, então, chega a ser uma utopia, praticamente”.